Já falei aqui sobre os homens casados, mas quero ser mais abrangente e falar sobre a fidelidade. A traição hoje não tem mais um conceito como antigamente que era a relação sexual fora do matrimônio.
Há quem considere pornografia, sexting e até o pensamento do desejo por outra pessoa como traição. Recomendo o TED da Esther Perel.
Rethinking infidelity me fez pensar em muitas coisas como pessoa que já foi traída (mais de uma vez). Por exemplo, antigamente o conceito de monogamia era ter um parceiro para a vida toda. Hoje é um parceiro por vez. E muitos casais que passam por traições que são descobertas permanecem juntos (meu caso, por um tempo), mas sem trabalhar as causas acabam em novas traições, mais dores e inevitavelmente o fim.
Ela propõe aos casais que a procuram que eles considerem aquela relação, aquele casamento específico, como terminado. E que juntos eles se proponham a construir um novo casamento. E mais, que levem em conta que hoje em dia, estatisticamente, as pessoas passam por 3 relacionamentos estáveis, as vezes com os mesmos parceiros.
Estou formando minha opinião ainda. Estou na fase de coleta de dados para depois processá-los e terminar com uma colocação própria sobre o assunto, embora a parte da vivência eu já tenha e me lembre muito bem, quase todo dia.
Minha terapeuta diz que quando nós estamos em uma relação na qual amamos muito o parceiro pode passar o cara mais gostoso da Terra que você vai olhar, dar de ombros, e continuar satisfeita com o parceiro que você elegeu como o mais perfeito da Terra.
A traição quebra coisas que não voltam a sua forma original nunca mais. Eu tentei por 5 anos restaurar um casamento pós traição. Eu nunca mais confiei no meu ex-marido. Nunca mais. Para todo e qualquer assunto. Eu ouvia o que ele tinha pra dizer e do alto do meu pedestal de traída julgava o pensamento, a fala, a atitude, que eram sempre insuficientes e imaturas.
Imaturidade é uma das coisas que eu sempre considerei como mais gritantes entre os infiéis. Falta de aptidão para lidar com a sua realidade e assumir as consequências. Ainda mais nos casos de traição descoberta e não confidenciada.
No momento passa uma lista de razões pelas quais eu considero a traição o absurdo último das atitudes humanas. Mas também quero dizer pra você, caso você seja o traído, que você não é uma vítima.
Eu abracei o papel da traída. Da vítima, da coitada, da esposa devotada que perdoou o traidor. E eu fui julgada pelos meus iguais como se eu não tivesse os colhões pra dar um pé na bunda do meu ex e seguir a vida dali.
A verdade é que eu fiquei pq além de tudo acima ser verdade, eu sentia amor. Eu sentia muito ódio pela atitude. Mas eu sentia muito amor. E isso as pessoas não eram capazes de processar. Como você consegue amar o cara que estava agindo da maneira que ele agiu com você?
Aparentemente pq eu o amava demais e isso nada tinha a ver com minha autoestima. Embora ela não fosse nenhuma joia rara.
Hoje, duas traições do mesmo par depois, um divórcio em curso, um relacionamento desfeito, repensei vários pontos sobre o ato de trair que me custaram o homem que eu mais amei na minha vida.
Parte dessa destruição é culpa minha. Sim, minha. Da traída. Da vítima. Da coitada. Pq eu quis cavar os detalhes, eu quis ler mensagens, saber detalhes, investigar a fundo, fazer o CSI/Bones da merda que já estava exposta e não precisava ser derramada. E claro, sempre fui boa com jornalismo investigativo. Descobri tudo. Nome, telefone, endereço, emprego, conteúdo de conversas, fotos, telefonemas, viagens, comprovantes variados, tatuagens delas, amigos e até registro de ocorrência de furto.
O que eu ganhei com isso? Uma variada gama de possibilidades de projetar merda na minha cabeça. Cada vez que eu me sentia menos cuidada na relação eu lembrava do esforço dele com uma das amantes, uma viagem corrida para vê-la por alguns instantes, e me sentia ainda mais desvalorizada.
As vezes eu passava o dia maquinando essas ideias e já estava espumando de ódio antes mesmo dele chegar em casa e fatalmente quando ele chegava, qualquer respirada fora do meu ritmo se transformava em gás incendioso que gerava minhas explosões de ódio. Não há relacionamento que sobreviva a isso.
Diferentemente do que eu fiz anos atrás eu não procuraria saber mais nada. Saber não muda nada. Não cura nada, pelo contrário. Talvez o mais saudável e muito provavelmente a atitude que eu teria hoje, se voltasse ao episódio descoberto na véspera do casamento da minha melhor amiga da qual fomos padrinhos, seria: iria ao casamento, aproveitaria ao máximo a festa do lado daquela amiga que é pra vida toda.
Em casa, juntaria as minhas coisas, as coisas do meu filho, me despediria dele com um mix de muita raiva fresca no coração, mas com muito mais amor pela minha sanidade mental. Eu o deixaria. Mas com aquele amor que reclamei lá em cima. Eu o amava e decidi "perdoar". Hoje eu o deixaria pelo mesmo motivo... por amor. Pelo tempo em que ele foi capaz de prover a nós tudo que nós precisávamos em respeito ao que foi bom.
Ele justificou quando me pediu a separação que, além de não sentir mais nada por mim, quer terminar enquanto há carinho e respeito. Eu gostaria de ter terminado enquanto havia amor. Amor pelo qual eu poderia lembrar do passado com mais empatia do que hoje. Pq agora, carinho e respeito não estão sendo suficientes.
Não odeio meu ex mesmo tendo sido traída duas vezes. Eu odeio a dor da quebra do ideal. Daquele amor pra vida. Do cara que eu jurava que era meu príncipe no cavalo branco e não passava de um cara comum, com problemas comuns e que quebrou a única promessa que eu não poderia aceitar: eu não vou te magoar (intencionalmente).
Digo, quando nós nos conhecemos a coisa foi rapidamente desenrolando para o interesse amoroso. E eu dei logo as cartas para ele. Escuta, minha vida é um caos. Minha família é desfuncional. Eu sou uma bagunça. Não posso dragar você para dentro dessa confusão. Somos absolutamente diferentes. Não tem como dar certo sem que alguém saia mortalmente ferido dessa. E sumi.
Como o não age como um intensificador de desejos, não? Ele passou a me procurar desesperado. Queria falar com meu pai, me mandou coisas pelo correio... me buscou por todos os meios e jurou me amar para sempre.
Puta que pariu, como eu fui cair nessa? Eu cedi. Por esse amor eu fiz tudo que eu disse que eu não ia fazer. Eu deixei minha faculdade - queria ser correspondente em países em guerra civil, eu me mudei de Estado, eu me casei e orei de joelhos noites seguidas para me tornar mãe. Deixei empregos, me tornei dona de casa, fui tentando me enquadrar nos desejos dele. Eu queria muito manter aquele ideal.
Ruiu, claro. Eu não sou nada disso. Eu sou outra pessoa. Eu ainda gosto de cerveja trincando no copo americano no boteco sujinho. Continuo gostando de truco, falando palavrões como pirata bêbado, gosto de poesia, de ler e escrever, gosto de política, gosto de armas, gosto de intensidade, ainda desejo aquele cigarro que deixei de fumar para me adequar e agora tô catando os cacos.
Os cacos estão todos misturados e isso é uma bagunça de foder a cabeça de quem tem muitos anos de experiência em montar sets de lego. Uns cacos são da Analice de uma década atrás, outros cacos são desta Analice-ex-mãe-dona-de-casa, outros são desta nova Analice que ainda não sabe quem é.
Aí eu me aproveito de um trecho da novela "A Fera na Selva"... Eu me espalhei e tentei resgatar coisas...
"... pôr na mesa, como as cartas de um baralho, aquelas que cada um tinha na mão; apenas acontecia que o baralho infelizmente não era completo - o passado, invocado, convidado, encorajado, naturalmente não lhes podia dar mais do que continha..."
O passado não vai me trazer a novidade que eu estou buscando pq ele não pode me dar mais do que contém e o que ele contém eu já conheço, já rói esse osso pelos últimos 5 anos.
Seguimos...
Há quem considere pornografia, sexting e até o pensamento do desejo por outra pessoa como traição. Recomendo o TED da Esther Perel.
Rethinking infidelity me fez pensar em muitas coisas como pessoa que já foi traída (mais de uma vez). Por exemplo, antigamente o conceito de monogamia era ter um parceiro para a vida toda. Hoje é um parceiro por vez. E muitos casais que passam por traições que são descobertas permanecem juntos (meu caso, por um tempo), mas sem trabalhar as causas acabam em novas traições, mais dores e inevitavelmente o fim.
Ela propõe aos casais que a procuram que eles considerem aquela relação, aquele casamento específico, como terminado. E que juntos eles se proponham a construir um novo casamento. E mais, que levem em conta que hoje em dia, estatisticamente, as pessoas passam por 3 relacionamentos estáveis, as vezes com os mesmos parceiros.
Estou formando minha opinião ainda. Estou na fase de coleta de dados para depois processá-los e terminar com uma colocação própria sobre o assunto, embora a parte da vivência eu já tenha e me lembre muito bem, quase todo dia.
Minha terapeuta diz que quando nós estamos em uma relação na qual amamos muito o parceiro pode passar o cara mais gostoso da Terra que você vai olhar, dar de ombros, e continuar satisfeita com o parceiro que você elegeu como o mais perfeito da Terra.
A traição quebra coisas que não voltam a sua forma original nunca mais. Eu tentei por 5 anos restaurar um casamento pós traição. Eu nunca mais confiei no meu ex-marido. Nunca mais. Para todo e qualquer assunto. Eu ouvia o que ele tinha pra dizer e do alto do meu pedestal de traída julgava o pensamento, a fala, a atitude, que eram sempre insuficientes e imaturas.
Imaturidade é uma das coisas que eu sempre considerei como mais gritantes entre os infiéis. Falta de aptidão para lidar com a sua realidade e assumir as consequências. Ainda mais nos casos de traição descoberta e não confidenciada.
No momento passa uma lista de razões pelas quais eu considero a traição o absurdo último das atitudes humanas. Mas também quero dizer pra você, caso você seja o traído, que você não é uma vítima.
Eu abracei o papel da traída. Da vítima, da coitada, da esposa devotada que perdoou o traidor. E eu fui julgada pelos meus iguais como se eu não tivesse os colhões pra dar um pé na bunda do meu ex e seguir a vida dali.
A verdade é que eu fiquei pq além de tudo acima ser verdade, eu sentia amor. Eu sentia muito ódio pela atitude. Mas eu sentia muito amor. E isso as pessoas não eram capazes de processar. Como você consegue amar o cara que estava agindo da maneira que ele agiu com você?
Aparentemente pq eu o amava demais e isso nada tinha a ver com minha autoestima. Embora ela não fosse nenhuma joia rara.
Hoje, duas traições do mesmo par depois, um divórcio em curso, um relacionamento desfeito, repensei vários pontos sobre o ato de trair que me custaram o homem que eu mais amei na minha vida.
Parte dessa destruição é culpa minha. Sim, minha. Da traída. Da vítima. Da coitada. Pq eu quis cavar os detalhes, eu quis ler mensagens, saber detalhes, investigar a fundo, fazer o CSI/Bones da merda que já estava exposta e não precisava ser derramada. E claro, sempre fui boa com jornalismo investigativo. Descobri tudo. Nome, telefone, endereço, emprego, conteúdo de conversas, fotos, telefonemas, viagens, comprovantes variados, tatuagens delas, amigos e até registro de ocorrência de furto.
O que eu ganhei com isso? Uma variada gama de possibilidades de projetar merda na minha cabeça. Cada vez que eu me sentia menos cuidada na relação eu lembrava do esforço dele com uma das amantes, uma viagem corrida para vê-la por alguns instantes, e me sentia ainda mais desvalorizada.
As vezes eu passava o dia maquinando essas ideias e já estava espumando de ódio antes mesmo dele chegar em casa e fatalmente quando ele chegava, qualquer respirada fora do meu ritmo se transformava em gás incendioso que gerava minhas explosões de ódio. Não há relacionamento que sobreviva a isso.
Diferentemente do que eu fiz anos atrás eu não procuraria saber mais nada. Saber não muda nada. Não cura nada, pelo contrário. Talvez o mais saudável e muito provavelmente a atitude que eu teria hoje, se voltasse ao episódio descoberto na véspera do casamento da minha melhor amiga da qual fomos padrinhos, seria: iria ao casamento, aproveitaria ao máximo a festa do lado daquela amiga que é pra vida toda.
Em casa, juntaria as minhas coisas, as coisas do meu filho, me despediria dele com um mix de muita raiva fresca no coração, mas com muito mais amor pela minha sanidade mental. Eu o deixaria. Mas com aquele amor que reclamei lá em cima. Eu o amava e decidi "perdoar". Hoje eu o deixaria pelo mesmo motivo... por amor. Pelo tempo em que ele foi capaz de prover a nós tudo que nós precisávamos em respeito ao que foi bom.
Ele justificou quando me pediu a separação que, além de não sentir mais nada por mim, quer terminar enquanto há carinho e respeito. Eu gostaria de ter terminado enquanto havia amor. Amor pelo qual eu poderia lembrar do passado com mais empatia do que hoje. Pq agora, carinho e respeito não estão sendo suficientes.
Não odeio meu ex mesmo tendo sido traída duas vezes. Eu odeio a dor da quebra do ideal. Daquele amor pra vida. Do cara que eu jurava que era meu príncipe no cavalo branco e não passava de um cara comum, com problemas comuns e que quebrou a única promessa que eu não poderia aceitar: eu não vou te magoar (intencionalmente).
Digo, quando nós nos conhecemos a coisa foi rapidamente desenrolando para o interesse amoroso. E eu dei logo as cartas para ele. Escuta, minha vida é um caos. Minha família é desfuncional. Eu sou uma bagunça. Não posso dragar você para dentro dessa confusão. Somos absolutamente diferentes. Não tem como dar certo sem que alguém saia mortalmente ferido dessa. E sumi.
Como o não age como um intensificador de desejos, não? Ele passou a me procurar desesperado. Queria falar com meu pai, me mandou coisas pelo correio... me buscou por todos os meios e jurou me amar para sempre.
Puta que pariu, como eu fui cair nessa? Eu cedi. Por esse amor eu fiz tudo que eu disse que eu não ia fazer. Eu deixei minha faculdade - queria ser correspondente em países em guerra civil, eu me mudei de Estado, eu me casei e orei de joelhos noites seguidas para me tornar mãe. Deixei empregos, me tornei dona de casa, fui tentando me enquadrar nos desejos dele. Eu queria muito manter aquele ideal.
Ruiu, claro. Eu não sou nada disso. Eu sou outra pessoa. Eu ainda gosto de cerveja trincando no copo americano no boteco sujinho. Continuo gostando de truco, falando palavrões como pirata bêbado, gosto de poesia, de ler e escrever, gosto de política, gosto de armas, gosto de intensidade, ainda desejo aquele cigarro que deixei de fumar para me adequar e agora tô catando os cacos.
Os cacos estão todos misturados e isso é uma bagunça de foder a cabeça de quem tem muitos anos de experiência em montar sets de lego. Uns cacos são da Analice de uma década atrás, outros cacos são desta Analice-ex-mãe-dona-de-casa, outros são desta nova Analice que ainda não sabe quem é.
Aí eu me aproveito de um trecho da novela "A Fera na Selva"... Eu me espalhei e tentei resgatar coisas...
"... pôr na mesa, como as cartas de um baralho, aquelas que cada um tinha na mão; apenas acontecia que o baralho infelizmente não era completo - o passado, invocado, convidado, encorajado, naturalmente não lhes podia dar mais do que continha..."
O passado não vai me trazer a novidade que eu estou buscando pq ele não pode me dar mais do que contém e o que ele contém eu já conheço, já rói esse osso pelos últimos 5 anos.
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